Ricardo Freitas - Site

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Áudio Hi-End Stereo ou Home Theater

Ao ler uma matéria na Revista Clube do Áudio e Vídeo, sobre "O que você espera de um sistema Hi-End", lembrei de um fato pertinente.
Há alguns meses atrás, fui procurado por um renomado médico neuro-cirurgião, amante de música, solicitando uma consultoria. Ele me fez o seguinte relato:
Até 3 meses antes, ele possuía um sistema stereo dos anos 70, e se sentia extremamente feliz quando, ao chegar do trabalho, após um dia estressante (podemos imaginar por sua atividade), se punha a ouvir seus CDs e Vinis de clássicos e piano, relaxando e se deliciando com o que escutava.
Tendo se mudado recentemente para um apartamento dúplex, maior que o anterior, resolveu aderir às novas tecnologias e fazer um upgrade geral em seu sistema. Procurou uma famosa loja do Rio de Janeiro e trocou tudo. Na loja, alem de deletarem o toca-discos (coisa do passado, disseram), o aconselharam uma configuração padrão de home theater (receiver top de uma determinada marca, 7 caixas, subwoofer, player para tocar Blu-Ray/CD/DVD/MP-3/lava prato/lava roupa....etc...etc..., e como display, uma bela e luminosa TV de LED 3D de 60"). E ainda na loja, falaram da importância dos cabos, empurrando cabos lindos em embalagens maravilhosas, digno de ser colocado em um quadro. Conclusão: O pobre médico gastou uma nota preta e seu prazer de ouvir música foi pro espaço. De fato o que ouvi na sua bela sala era de arrepiar. Não precisava ser audiófilo para concluir que aquilo não faria nem um meio surdo feliz; médios super agressivos, graves sem definição "gordos", e as altas granuladas e contraditoriamente, veladas. Sem exagero, qualquer sistema in-a-box vendido nos grandes magazines tocaria aquilo. Talvez com um pouco mais distorção. Um sistema caríssimo e totalmente sem graça. O receiver, com 4 ou mais entradas e se não me engano, 2 saídas HDMI e cheio de outros recursos que, certamente, o nosso amigo médico só usaria, no maximo 10% deles. As caixas frontais, tipo torre, estavam ao lado do móvel que aloja os eletrônicos, praticamente coladas na parede do fundo, ou seja, na audição em stéreo, entre outros pontos negativos, soava tudo achatado.
Acredito que uma boa parte do público consumidor pudesse achar aquilo espetacular. "Olha que grave" alguns diriam. "Olha como as caixas traseira tocam", "repare nos pingos da chuva nesse filme, parece que estão caindo aqui dentro". Mas o fato é que o nosso amigo médico, que sabe o que escuta, e só queria ouvir suas músicas com o prazer que tinha anteriormente, estava completamente frustrado.
A conclusão a que se chega é que a maioria das lojas, além de não terem vendedores com conhecimento a altura de um certo nível de consumidores, têm apenas a preocupação de vender, vender, vender, sem procurar perceber, de fato, quais as reais expectativas do cliente.
O final dessa historia é que, após uma consultoria criteriosa e honesta, com algumas mudanças de cabos, mexidas em posicionamento de caixas e, inevitavelmente, uma ou outra troca de equipamento, proposta por profissionais competentes e confiáveis, o prazer em ouvir música retornou redobrado ao meu cliente, que hoje, é meu amigo, e tem me convidado para agradabilíssimas audições.
Gostaria de fechar esta postagem com a mensagem do pai do Fernando Andretti:
"Ouvir o que gostamos em um bom sistema é deixar a dura realidade do dia a dia e encontrar uma enorme fonte de paz em uma outra dimensão, ainda com a possibilidade de termos aquela sensação novamente quando a desejarmos".

6 comentários:

  1. Excelente meu amigo Ricardo. Você como sempre é muito perspicaz e sóbrio em seus artigos. Acho que nesse ramo, identificar o perfil e as necessidades do cliente é mais importante que conhecimento técnico. Além disso, uma boa dose de bom senso,não faz mal a ninguém.
    Abraços
    Clayton

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  2. Gostei muito Ricardo, parabéns. Traduz o que o mercado vive hoje em dia. Beleza, embalagem, status e preço nunca serão o motor de um mercado de entreterimento, e sim a capacidade de nos divertirmos, de aproveitarmos ao máximo nossos poucos momentos de lazer das nossas vidas cada dia mais corridas.
    Miguel Adri

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  3. Amigo Ricardo,

    Matéria excelente, retrata o nosso mercado.
    Muitos se enganam pelas altas potencias e distorçõe baixas, se esquecem de outros parametros importantes que definem a qualidade de um amplificador e ou sistema. Por outro lado, os fabricantes não colocam as especificações por completo.
    Grande abraço!

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  4. Ricardo,

    Esqueci de acrescentar que, a falta de conhecimento é muito grande nas lojas, contratam especialistas de venda que não tem o comprometimento de entender o cliente e empurram goela abaixo sistemas caros para ganharem comissões.

    Abraço,

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  5. Ricardo,

    Ótimo artigo! Parabéns por contribuir para a disseminação de conhecimento na área e melhoria da qualidade de serviços e fornecimento.

    Abraços

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  6. É por isso que eu não tenho vendedores nem "especialista de produto"...

    Todos os meus clientes são atendidos por mim. E só !

    Abraço Ricardo !

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